Desafios e Dificuldades da Criação de Gado Bovino de Corte no Rio Grande do Sul
Uma breve análise de como é feita a criação do gado bovino de corte no Rio Grande do Sul e verificar quais são as principais dificuldades que este segmento enfrenta.
Desafios e Dificuldades da Criação de Gado Bovino de Corte no Rio Grande do Sul

Dados do setor de gado de corte

De acordo com o IBGE (2015), no 1º trimestre de 2015, foram abatidas 7,732 milhões de cabeças de bovinos sob algum tipo de serviço de inspeção sanitária. Essa quantidade foi 9,3% menor que a registrada no trimestre imediatamente anterior (8,522 milhões de cabeças) e 7,7% menor que a apurada no 1º trimestre de 2014 (8,373 milhões de cabeças). Em nível nacional, o abate de 641.098 cabeças de bovinos a menos no 1º trimestre de 2015, em relação a igual período do ano anterior, teve como destaque quedas em: Mato Grosso (-179.260 cabeças), Mato Grosso do Sul (-118.023 cabeças), Goiás (-105.748 cabeças), Minas Gerais (-72.018 cabeças), São Paulo (-70.402 cabeças) e Paraná (-43.186 cabeças). Parte dessas quedas foi compensada por aumentos em outras Unidades da Federação (UFs), com destaque aos aumentos ocorridos no Pará (+48.749 cabeças) e no Maranhão (+13.590 cabeças). No ranking nacional do abate de bovinos, Mato Grosso continua na liderança, seguido por Mato Grosso do Sul e São Paulo (IBGE, 2015).

No comparativo entre os primeiros trimestres 2015/2014, a Região Sul ampliou sua participação no abate nacional em 0,6%, graças ao aumento de 5,1% no número de cabeças abatidas, advindos dos incrementos em Santa Catarina e no Paraná. A Região Sudeste manteve o mesmo nível de participação (18,7%), apesar de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo terem apresentado desempenho positivo, resultando em aumento de 3,9% no número de cabeças abatidas na Região. A Região Centro-Oeste perdeu 0,5% de participação, apesar do incremento de 0,4% no volume de cabeças de suínos abatidos, onde o desempenho positivo de Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal conjuntamente suplantou o resultado negativo de Mato Grosso (IBGE, 2015).

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2014), o Brasil no ano de 2012 abateu 31,1 milhões de cabeças, com uma produção de carne de 7.350.924 toneladas. Em 2011, o país abateu 28,8 milhões de cabeças, com uma produção de 6.783.537 toneladas, demonstrando crescimento em produtividade. De acordo com a citada instituição o país em 2011, apresentou um rebanho de 212 milhões de cabeças. As taxas de desfrute do Brasil nos últimos anos têm variado entre 16 a 18%. De janeiro a setembro de 2013 o país abateu 25.577.483 cabeças, com crescimento de 11,5% em relação a igual período do ano anterior (IBGE, 2014). Ou seja, antes crise econômica do país o abate só cresceu.

Com aproximadamente 209 milhões de bovinos, segundo o IBGE, o Brasil tem o maior rebanho comercial do mundo. Cerca de 80% do rebanho é composto por animais de raças zebuínas (Bos indicus), que são animais de comprovada rusticidade e adaptação ao ambiente predominante no Brasil. Dentre estas raças, podemos destacar o Nelore, com 90% desta parcela (IBGE, 2014).

A raça Nelore é extremamente adaptável às condições brasileiras, tanto ao ambiente quanto ao sistema de produção. A criação destes animais é predominantemente a pasto, com suplementação mineral. O uso de suplementação protéico/energética estratégica, de consumo reduzido, está aumentando constantemente no intuito de, suprir a carência de nutrientes nos pastos durante o período “seco” do ano. Os zebuínos representam a maioria do rebanho bovino para corte no Brasil, e são encontrados em toda extensão territorial do país (ABIEC, 2015).

Dificuldades do segmento

Segundo Trevisan (2012), uma das dificuldades do segmento é a concorrência por um preço menor da carne em relação a outros estados. Ainda, conforme ele, devido a seca que atingiu o estado nos últimos anos e a falta de uma política sólida, fez com que os criadores procurassem outras alternativas para competir com mais força no mercado. Além disso, a outra dificuldade que os donos de empresas rurais encontram é a falta da mão de obra, ou seja, como o estado rio-grandense possui uma população rural pequena faltam profissionais qualificados para trabalhar, principalmente com os animais de maior valor, como é o caso dos reprodutores.

Segundo Rockenbach, Schneider e Araldi (2012) há dificuldades como a sazonalidade na produção forrageira, prejudicando todo o sistema de produção, nas questões de melhoria no manejo das pastagens, no melhoramento dos campos nativos, no sentido de aumentar sua qualidade e disponibilidade forrageira nas épocas críticas e o incentivo da produção a pasto podem levar este modelo de produção a elevados rendimentos.

Área necessária para a produção de gado bovino para corte

O confinamento para terminação, o semiconfinamento, e a suplementação de período seco é uma estratégia adotada por criadores, para aumentar a eficiência e a produtividade da bovinocultura de corte brasileira e reduzir o ciclo de produção, para a obtenção de uma carcaça mais bem acabada e conseqüentemente para um uso mais sustentável da terra e dos recursos naturais (ABIEC, 2015).

Segundo Souza, et al. (2003), existem dois tipos de confinamento para a criação de gado para corte, sendo os confinamentos de “céu aberto” devendo possuir área de 9 a 12 m² por cabeça (equivalente de 50 a 100 animais), e os “Galpões de confinamento” com área de 3 a 5 m² por cabeça de animal (equivalente a 1,8m² cabeças de bezerro).

Já para o Centro de Produções Técnicas (CPT, 2014), um sistema de confinamento de bovinos de corte bem projetado deve possuir: centro de manejo dos animais, área para produção de alimentos, silos e ou salas de feno; área para preparo dos alimentos, galpão para máquinas e implementos, currais de engorda; estrutura para coleta de esterco; estruturas de conservação do solo e da água.

Quanto à área, geralmente é sugerido de 15 a 30 m² por animal. Entretanto, em regiões mais secas podem ser usados 12 m² por animal. Nas regiões mais chuvosas, com o objetivo de se evitar lama, podem ser utilizados 50 m² por animal. Nesse caso, poderão ser feitas calçadas com 1,8 a 3,0 m ao longo dos cochos, ou construção de telhados. Não é recomendável um lote exceda 100 cabeças/curral (CPT, 2014).

Contudo, afirma a ABIEC (2015) que o rebanho bovino brasileiro está em plena evolução, se tornando cada dia mais produtivo e eficiente. A pecuária brasileira esta cada vez mais sustentável, devido a maior e melhor produção por área utilizada, tornando-se uma referência mundial.

O clima gaúcho em relação a criação de gado bovino para corte

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias exportadoras de Carne - ABIEC (2015), a região Sul do País é caracterizada por possuir pastagens de alto valor nutritivo, e baixas temperaturas, o que contribui para criação da raça Bos taurus (animais de raças taurinas), de origem européia, por se adaptarem com facilidade a este tipo de clima. Ainda segundo a mesma fonte, dentre as raças Aberdeen Angus, Red Angus, Hereford, Simental, entre outras são raças de origem européias. Tais animais são criados tanto nos sistemas de controles ecto e endoparasitas, quanto nutricionais conforme as necessidades de adaptação do animal.

Ainda segundo a mesma fonte, é possível encontrar no país animais conhecidos como europeus adaptados, sendo representados principalmente pelas raças Bonsmara e Senepol. O cruzamento entre raças, ou cruzamento industrial, entre animais zebuínos e europeus, é uma ferramenta muito utilizada pelos brasileiros que tem gerado ótimos resultados, em relação ao ganho de heterose (ganho genético decorrente de combinação de características extremas entre as raças), além da complementaridade das características. Os cruzamentos estão sendo sofrendo adaptações ao passar dos anos, visando a produção de carne mais nobres em ambientes mais rústicos (ABIEC, 2015).

Os efeitos da crise econômica dopais sobre o segmento

Segundo matéria publicada pela na revista Rural (2015), a crise vivenciada no país está relacionada ao preparo dos agricultores, considerando que o bom desempenho dos anos anteriores permitiu a capitalização desses produtores. Em relação a pecuária o desequilíbrio entre a oferta e a demanda é o que tem sustentado este segmento. "O abate de fêmeas no passado provocou, desde 2014, restrição de oferta de animais prontos para abate e, consequentemente, a negociação da arroba em patamares elevados, fato que pode justificar as expectativas de crescimento do VBP e PIB".

Segundo a analista da Famasul (2015), a tendência é de que as negociações da arroba do boi tanto no mercado físico, quanto no mercado futuro, continuem em patamares elevados. “Uma das formas dessa influência pode estar no desaquecimento da demanda interna, pela troca entre tipos de carnes e entre tipos de proteínas animais”.

Fonte: Desafios e Dificuldades da Criação de Gado Bovino de Corte na Serra Gaúcha. Marlova Lima Paim, Cristiano Soares Flores, Larissa Leidens Silva, Djulia Alexandra Velho Machado, Marcia Rohr Cruz, Vilmar Antonio Gonçalves Tondolo, Maria Emilia Camargo. XV MOSTRA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - UCS