Leilão marca três décadas de evolução da pecuária
A idade de abate dos animais diminuiu de cinco para menos de três anos
Leilão marca três décadas de evolução da pecuária

Nos últimos 30 anos a pecuária brasileira registrou seus maiores avanços produtivos. A idade de abate dos animais diminuiu de cinco para menos de três anos, o peso de carcaça aumentou de 16@ para 20@ e o Brasil passou da condição de importador a exportador de carne bovina para mais de 180 países.

“Investir em tecnologia, melhorar a sanidade, a nutrição e, principalmente, aumentar o rigor da seleção genética do rebanho são os pilares dessa evolução”, explica o criador Bento Abreu Sodré de Carvalho Mineiro, diretor da Fazenda Sant’Anna, em Rancharia (SP), que promove o 30º leilão anual da propriedade, dia 15 de setembro.

O evento tem início às 14 horas, com transmissão do Canal Terraviva e oferta 180 reprodutores, sendo 150 touros puros da raça Nelore e outros 30 divididos entre as raças Brahman POI e Gir Leiteiro POI. Segundo o criador, são exemplos de animais que respondem às necessidades da pecuária moderna, pois são selecionados totalmente a pasto.

Entrando um pouco mais a fundo na questão do melhoramento genético de bovinos nas últimas três décadas, Bento Mineiro destaca a importância atual do padrão racial dos touros e características funcionais, sejam eles Nelore, Brahman ou Gir Leiteiro. Possuir morfologia adequada é o princípio básico da produção pecuária no Brasil.


“As qualidades fenotípicas e funcionais são extremamente importantes, pois os touros têm de caminhar longas distâncias em pastagens altas, atrás de água, comida e da própria vacada. Animais com problemas de aprumo e umbigo estão fora do escopo da Fazenda Sant’Anna”, elenca o criador. Principalmente, o Brahman necessita de cuidado especial em relação a estes atributos.

A raça chegou ao Brasil em 1994, mas o gado importado do seu berço, os Estados Unidos, apesar da ótima carcaça, tinha graves problemas de aprumos e umbigo, devido às particularidades produtivas daquele país. Por este motivo, a propriedade recorreu a linhagens paraguaias e australianas, muito mais próximas da realidade brasileira.

O Brahman surgiu na Sant’Anna em 1996 para substituir o Brangus, que havia ingressado no plantel em 1986, raça sintética que mostrou à Bento e a seu pai, Jovelino Carvalho Mineiro, a quem sucede, os segredos da qualidade de carne. Antes da chegada dela, a preocupação era agregar rentabilidade com o rápido ganho de peso e de carcaça a campo.

“Descobrimos que não basta produzir boi. Ele precisa ser precoce ao abate, ter bom rendimento de carcaça e resultar numa carne mais macia e saborosa para o consumidor final. Esse foi o grande legado do Brangus para nós, que, inclusive, culminou, à época, em uma participação na conceituada rede de restaurantes Rubaiyat”, observa Bento Mineiro.

O Brahman permitiu produzir a mesma qualidade de carne com custo menor.“Um bom touro também precisa de fertilidade, rusticidade e tamanho mediano, sem que encolha muito. É importante depositar gordura rápido, mas precisa encurtar o ciclo produtivo ganhando peso adequado”, adverte Bento Mineiro, lembrando que as vacas também necessitam de ótima habilidade materna e facilidade de parto.

Mesmo o Nelore, cuja seleção iniciou na Sant’Anna em 1980, não está imune àquelas preocupações, porque produzir bons reprodutores é o compromisso da fazenda com a raça-matriz da produção de carne brasileira.

Em meio a tantas transformações da pecuária brasileira, nesses últimos 30 anos, a Fazenda Sant’Anna sempre correspondeu, e até mesmo antecipou algumas tendências, sendo pioneira no oeste paulista no plantio direto de soja, em 1995, integrando, com sucesso, agricultura e pecuária. Neste período, o plantel diminuiu e melhorou a qualidade genética, para produzir mais em menor área, justamente o que se busca hoje no setor.

A fazenda é pioneira no uso de ultrassom na avaliação de carcaça, tecnologia incorporada ainda em 1980. Junto com a Fapesp, financiou os projetos do novilho superprecoce e do Genoma do Boi, trabalho conduzido com maestria pela Unesp de Jaboticabal, em 2003, e emprega, há décadas, transferência de embriões e inseminação artificial em tempo fixo (IATF) na seleção do rebanho.

O diretor da Fazenda Sant’Anna ainda observa que nos Estados Unidos, reconhecido como uma referência mundial em pecuária de alto valor agregado, as propriedades de cria estão concentradas nos estados da Flórida, Texas e Califórnia, onde 80% dos bezerros são produzidos em fazendas com até 100 vacas. Não há vaqueiros para acompanhar os partos.

“Para tanto, a prioridade lá é peso ao nascer negativo, ou seja, bezerros que nasçam pequenos e permitam à vaca parir sozinha. Essa necessidade de rusticidade na cria é uma tendência que já está se confirmando no Brasil”, aponta Bento Mineiro. É neste ponto que a habilidade do selecionador é colocada em xeque, pois, apesar de nascer pequeno, o animal necessita crescer rápido para atingir o peso ideal de abate no tempo necessário.

BUSCA POR AGREGAR VALORES 

Essa é uma inclinação do mercado que já vem impactando as fazendas leiteiras no Brasil. Para atender a demanda, a partir do plantel Gir Leiteiro POI, a propriedade lançou a marca Pardinho Artesanal, cuja sede fica na Fazenda Bela Vista, em Pardinho (SP), uma das unidades da Fazenda Sant’Anna.

“Hoje, a meta não é produzir volume e, sim, qualidade. Por isso buscamos uma seleção voltada à produção de sólidos totais, cujos resultados surpreendem e serão apresentados no nosso leilão”, relata. Leite com elevada taxa de sólidos rendem bonificações aos produtores nos laticínios.

Outro nicho de mercado interessante é a alta gastronomia, onde esse diferencial também se faz necessário, até mesmo, rendendo prêmios à empresa em vários concursos. A maior conquista aconteceu no Mondial du Fromage de Tours, realizado na França. Com seu principal produto, o queijo Cuesta, a brasileira Pardinho Artesanal ficou com a medalha Superouro, deixando para trás marcas de 15 outros países.

Cuesta, Cuesta Azul e Mandala são os produtos mais vendidos e têm permissão para serem exportados porque a Pardinho Artesanal possui SIF (Serviço de Inspeção Federal). “Os touros Gir Leiteiro à venda no 30º Leilão Sant’Anna são filhos e irmãos das vacas que estão produzindo esse queijo”, ressalta Bento Mineiro.

A seleção Gir Leiteiro iniciou em 2000, mesmo ano em que a Fazenda Sant’Anna conquistou o ISO 14001, certificação ambiental concedida pela International Organization for Standardization, umas das mais rigorosas do mundo. A Pardinho Artesanal nasceu em 2014.

“É uma honra participar deste grande salto produtivo. E nesta edição especial de 30 anos de leilões da Sant’Anna, diante de diversas demandas e mudanças do mercado, vividas até o momento, acredito que chegamos a um produto eficiente para o presente e o futuro da pecuária brasileira”, conclui.

Fonte: www.msnoticias.com.br