Na contramão, agro e construção geram vagas em 2020
No primeiro semestre deste ano, o Brasil perdeu de 1,2 milhão de empregos formais por causa da pandemia de covid-19
Na contramão, agro e construção geram vagas em 2020

No primeiro semestre deste ano, o Brasil perdeu de 1,2 milhão de empregos formais por causa da pandemia de covid-19, interrompendo uma retomada tímida no mercado de trabalho iniciada em 2019. Mas um grupo de pequenos municípios conseguiu passar por esse período com um saldo positivo de vagas. Parte deles tem sua economia ligada à agroindústria, parte tem visto mais dinamismo na construção civil, dois setores que, nesses casos, ajudaram a compensar a queda registrada nos serviços e no comércio.

Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a maioria – 60% – dos municípios ou ficou no negativo ou não criou emprego algum neste ano. O que deixa em evidência lugares como Venâncio Aires (3.778 vagas) e Santa Cruz do Sul (2.847), ambos produtores de fumo no interior do Rio Grande do Sul.

Eles aparecem em primeiro e terceiro lugar, respectivamente, no ranking dos que mais criaram vagas formais em 2020. Ali, o fechamento temporário das fábricas de cigarro da região e das unidades de processamento de fumo para exportação, como medida de prevenção ao coronavírus, resultou no prolongamento do período de processamento da safra, durante o qual são contratados milhares de temporários, chamados safristas, pelo regime CLT. O Brasil é o maior exportador de folha de tabaco do mundo e o Rio Grande do Sul o principal produtor.

“O que ocorreu na região foi uma bolha, por causa da pandemia”, afirma Ricardo Sehn, administrador do sindicato dos trabalhadores na indústria do fumo e alimentos de Venâncio Aires. Ele conta que a manutenção do emprego na indústria do fumo ajudou a conservar empregos em outros segmentos, como o processamento do mate, cujo consumo cresceu durante a pandemia e também ajudou a criar vagas na região.

“Há empresas que terão contratos avançando até outubro”, explicou Sérgio Pacheco, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Fumo e Alimentação de Santa Cruz (Stifa). Atualmente são 8,3 mil trabalhadores em atividade em Santa Cruz do Sul. Segundo ele, o salário dos safristas injeta em torno de R$ 10 milhões por mês na cidade, permitindo a circulação da economia local mesmo em tempos de pandemia.

Ainda na região Sul, Chapecó, município conhecido como a capital da agroindústria, criou um saldo de 1.725 empregos, mas a indústria local empregou mais 3.066 pessoas, segundo o Caged, mostrando que as contratações no setor mais que compensaram as demissões nos demais segmentos da economia local.

O município tem unidades de grandes processadoras de carnes e empresas do setor metalomecânico que atende frigoríficos da região. Plásticos, embalagens, transportes, móveis, bebidas, software e biotecnologia são outros segmentos industriais locais.

De acordo com Jorge de Lima, gerente-executivo do Sindicarne, que reúne as indústrias de carnes de Santa Catarina, o Estado tem batido recordes de exportação por causa da demanda asiática, em especial a chinesa, que aumentou depois que a peste suína africana dizimou boa parte do rebanho dessa região do mundo. “Só durante a pandemia houve 1,5 mil contratações e não estou falando de reposição de empregados afastados por estarem no grupo de risco para o coronavírus. São novos postos”, afirma o gerente-executivo.

Citando dados da Esalq-USP, ele afirma que a cada emprego formal gerado na indústria local outros oito são criados em setores de apoio, como embalagens e transporte.

No Pará, o município de Paraupebas (3.141 vagas), segundo lugar no ranking e mais conhecido por estar assentado na maior província mineral do mundo, a Serra dos Carajás, é um caso raro de município que criou empregos em quase todos os setores, com destaque para a construção (1.373), especialmente aquela relacionada a obras públicas, e serviços (1.256).

Além do município paraense, Rio Verde, em Goiás, viu o emprego crescer mais na construção civil, embora a cidade também seja um polo agroindustrial no sul do Estado. Ali, a construção de obras de infraestrutura respondeu por quase a totalidade dos 1.868 empregos formais gerados no primeiro semestre deste ano.

Na lista dos dez municípios mais empregadores – em que não há nenhuma capital -, a indústria, ligada ao agronegócio ou não, foi o setor que puxou o mercado de trabalho.

As duas capitais mais bem colocadas são Rio Branco, no Acre (1.116 vagas), e São Luís (1.442), no Maranhão. Em ambas, o setor de serviços – administrativos, no primeiro caso, e de seguridade e saúde, no segundo – foi o que puxou o saldo positivo.

Fonte: Valor Econômico.