Os desafios dos 5 maiores produtores de touros do Brasil
Na busca de entender melhor os projetos, fizemos um levantamento e enumeramos os principais desafios que esses criatórios têm para conseguir chegar nesse estágio
Os desafios dos 5 maiores produtores de touros do Brasil

Anualmente, a revista AG publica o ranking dos maiores produtores e vendedores de touros do País. No ano de 2019 os 5 primeiros lugares de touros zebuínos ficaram por com fazendas produtoras de Nelore.

Grendene (1°), Agropecuária Jacarezinho (2°), Agropecuária CFM (3°), Terra grande (4°) e EAO (5°) lideraram com larga vantagem o ranking e reafirmaram suas posições como maiores difusores dessa ferramenta tão democrática que é o touro.

Na busca de entender melhor os projetos, fizemos um levantamento e enumeramos os principais desafios que esses criatórios têm para conseguir chegar nesse estágio, afinal, não se trata apenas de produzir, mas de vender esse volume de animais e com médias superiores às médias nacionais.

Para que esse processo ficasse mais claro, o artigo pontua os cinco grandes desafios: 1. pressão de seleção e retenção de fêmeas; 2. padronização; 3. critério de seleção; 4. comercialização e 5. pós venda. E a fim de facilitar ainda mais a compreensão, o texto segue ilustrado com o exemplo do primeiro colocado do ranking, a Nelore Grendene.


PRESSÃO E RETENÇÃO DE FÊMEAS:

Num projeto de seleção, a pressão de seleção e retenção de fêmeas é o primeiro e maior desafio. Afinal de contas, mesmo com a evolução exponencial das ferramentas genéticas e de reprodução, como por exemplo a utilização da FIV, a produção anual de 1.500 touros exige da Grendene um nascimento aproximado de 4.000 a 4.500 indivíduos. 

Considerando que 50% da produção nascem macho e 50% da produção nascem fêmeas, com 4.500 partos teremos algo próximo de 2.200 machos e 2.200 fêmeas. Na primeira etapa da seleção (desmama) consideremos que temos 2% de descarte e perdas naturais, teremos aproximadamente 2.100 machos. 

No sobreano normalmente é feito o maior percentual de descarte no processo produtivo de genética. Nessa etapa, tende-se a descartar entre 20 a 22% dos machos por inúmeros motivos, desde o não registro pela associação de raça até problemas no sistema reprodutivo ou inadequação com o padrão do plantel. Assim, ao final dessa etapa temos apenas 1.600 machos, o que significa ter 1.500 mil animais para a venda e, aproximadamente 100 animais de reserva para possíveis trocas e substituições necessárias devido danos causados nos animais antes ou durante o processo a venda. 

Os números acima citados não são precisamente esses, mas expressam uma possível realidade. Sendo assim, por mais eficiente que seja uma fazenda produtora de genética, chegamos ao desafio de ter anualmente um plantel de fêmeas prenhes que resulte em 4.500 mil vacas paridas. Para tanto, considerando uma taxa anual média de 82% de prenhez ao final da estação de monta, é preciso de um rebanho aproximado de 5.600 fêmeas PO. 

Engana-se ao pensar que essas vacas poderiam ser comuns em sua totalidade e funcionarem como receptoras, pois ao trabalhar exclusivamente com FIV, uma fazenda dificilmente alcançaria 60% de taxa de prenhez, o que significaria um volume ainda maior de vacas na propriedade, elevando muito o tamanho do rebanho estático. A FIV é uma excelente ferramenta auxiliar no processo de multiplicação de animais de genética superior, utilizada em parcela de nascimentos de um projeto dessa magnitude.

Além do volume de matrizes, faz-se necessário qualidade dessas fêmeas, afinal de contas, imaginem vocês que o percentual de vacas vazias pode comprometer todo o projeto. Logo, aumenta-se muito a responsabilidade no processo de acasalamento, visto que as filhas dessas vacas são a base de reposição do plantel nos anos seguintes e que as novas fêmeas que nascem devem ser superiores as suas mães, elevando a cada safra a qualidade do rebanho.  


PADRONIZAÇÃO:


Um rebanho PO é uma marca e, como toda marca, carrega sua identidade, premissas, virtudes e defeitos. Por esse motivo, a padronização é o segundo grande desafio de um projeto produtor de genética.

Imaginem vocês que, ao assistirem durante o um leilão da Nelore Grendene, todos os compradores esperam ver do começo ao fim um único tipo de gado e que esse seja o retrato das principais características vendidas pela marca. O gado precisa ser produtivo, rústico, adaptado e precoce. Os touros por sua vez precisam ser atrativos visualmente, ter fenótipo característico e raça expressa. 

A padronização torna-se, portanto, um grande desafio. Afinal de contas, como garantir a experiencia do comprador? Como auxiliar os clientes da marca a imprimir uma identidade no rebanho deles? Como dar ao comprador a segurança de qualidade de todos reprodutores ofertados? 

Esse nível elevado de padronização só vem com anos de melhoramento genético e com critérios muito claros e definidos de pressão seleção e descarte do rebanho. É na busca por padronização que surge o terceiro grande desafio: definir os critérios que irão nortear a criação.


CRITÉRIO DE SELEÇÃO:


Ao começar um projeto de genética, é preciso ter bem claro o processo de seleção que será adotado, ferramentas que serão utilizadas e qual o tipo de animal será produzido. A partir daí, são definidos os critérios de seleção que expressam nos indivíduos as vontades do criador, sendo esse um dos maiores desafios. 

Imaginem vocês que a Nelore Grendene hoje realiza um dos maiores programas de avaliação intra-rebanho do país, permitindo identificar os indivíduos de acordo com seu desempenho e ranqueá-los conforme seu potencial de melhoria nos rebanhos de corte. 

Ao definir os critérios que balizam sua criação, o Nelore Grendene posicionou sua marca de acordo com as características escolhidas. No caso específico da Grendene, rusticidade, capacidade reprodutiva, rendimento e adaptabilidade ao campo são os nortes da seleção, o que faz com que os indivíduos ali avaliados possuam um padrão único, e que suas gerações futuras estejam ainda mais próximas do padrão IDEAL desejado, visto que, no processo normal de melhoramento genético, as gerações seguintes tendem a ser melhores que as anteriores desde que haja critério. 


COMERCIALIZAÇÃO:


Fabricar de maneira padronizada, em larga escala, com constância e critério é um grande desafio. Imagine você o quão desafiador é comercializar toda essa produção e ainda obter médias equivalentes ou superiores às médias nacionais.

Para superar essa barreira, cada um desses criatórios possui a sua estratégia. Alguns criatórios optam pela distribuição do comércio em vários leilões distintos, outros mesclam as vendas entre leilões e shoppings feitos em dias de campo, e outros ainda, associam a essas estratégias às vendas diretas na fazenda. Construir um projeto relevante de genética passa obrigatoriamente por construir uma marca, e, por esse motivo, investir na promoção dela passa por promover as vendas em projeção nacional. Dessa forma, essas empresas rurais contam com um planejamento minucioso de exposição da marca, comunicação das diferentes etapas de trabalho, oportunidades do público entrar em contato com o sistema produtivo e os produtos fabricados, além da disponibilidade constante de atendimento durante o ano todo, visando gerar contato e valor ao cliente. 

Nesse aspecto, é impossível não destacar a Grendene. Afinal, pertence a ela o título de maior leilão de touros do Brasil, o conhecido 1.000 touros Nelore Grendene. Um projeto arrojado que comercializa em um único dia 1.000 reprodutores, de forma democrática e transparente, e que para acontecer exige a perfeição de todos os envolvidos, desde o time da fazenda, passando pela leiloeira e assessorias, chegando aos veículos de transmissão e distribuição. Falamos com propriedade sobre a operação de vendas Nelore Grendene, visto que vivenciamos a edição 2020 e foi possível dimensionar de dentro o tamanho e magnitude do projeto. 

Assim, um aparato completo de ferramentas, empresas e parcerias é crucial para que essas grandes marcas possam vender. Nós da E-rural atendemos 3 desses 5 grandes projetos, e sabemos muito bem o quão complexo é essa operação, mas podemos afirmar também que essas empresas são exemplos para tantas outras de diversos segmentos. 



PÓS VENDA:


Imagine você que o seu carro acabou de ter um problema e você não sabe como proceder. Agora imagine que ele é seu instrumento de trabalho e você precisa ter a segurança de que ele irá operar perfeitamente. Pois bem, nessa situação faz-se obrigatório ter suporte por parte da montadora, e por mais que você opte por não usar, ela precisa estar disponível, e para isso ela precisa ter uma grande malha de suporte ao cliente e se preocupar muito com o pós-venda. Uma produtora de touros não é muito diferente.

Precisamos entender que o touro é uma ferramenta, um investimento, e sempre faz parte de um projeto que tem como objetivo final alta produtividade. Sendo assim, essas empresas precisam ter toda uma estrutura de pós-venda capaz de atender seus clientes. Desde um canal de atendimento direto para solucionar dúvidas sobre como fazer o melhor uso da touro, acolher sugestões sobre os repassadores, passando por toda uma estrutura de distribuição e escoamento da produção para que ela alcance os quatro cantos do país o mais rápido possível, chegando até uma rede extensa de relacionamento para que seja dado um suporte técnico, quando assim for necessário. Montar uma estrutura tão completa e complexa requer grandes investimentos, e isso aumenta ainda mais a pressão sobre todo o projeto de produção de touros. 

Esses grandes projetos se destacam por ter conseguido aliar um rebanho com muita consistência genética, manter uma padronização de qualidade que impressiona o mercado, zelarem por critérios de seleção efetivos no alcance de animais superiores, ofertarem de forma acessível os animais e se atentarem para a experiencia de compra, recebimento, uso e suporte aos clientes.

Por esses motivos acima citados e por outros tantos, essas grandes produtoras de touros são vistas como empresas complexas e que beiram a perfeição operacional, afinal de contas, elas não podem falhar em nenhuma etapa do processo, desde a concepção, a execução porteira adentro, chegando até a porteira para fora.


Desejamos que com esse artigo, você usuário de touros possa olhar de outra forma para esses projetos de genética, e possa compreender o valor da marca estampada em seu reprodutor. Assim, irá pensar bem sobre qual touro adquirir, escolhendo sempre aquele que atenda e some melhor no seu projeto.