Prevenção e combate à raiva em bovinos
por Rafael Suzuki
Prevenção e combate à raiva em bovinos

Introdução 


Em 12 de julho, foi confirmado mais um caso de raiva dos herbívoros no munícipio de Oriente/SP pelo Escritório de Defesa Agropecuária de Marília. Nessa região, ocorreram outros oito casos, sendo que desde o início deste ano foram registrados 55 casos confirmados no estado de São Paulo.


Contudo, não é só São Paulo que vem sofrendo com essa enfermidade neste ano. A Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (SEAPDR) emitiu alerta sanitário, pois 17 focos de raiva foram registrados em 13 munícipios no estado de janeiro a junho e pode se disseminar para mais de 28 municípios.


Mas afinal, o que é essa doença, quais são seus prejuízos, seus sintomas, e como preveni-la?


Raiva

A raiva é uma enfermidade infecto-contagiosa viral caracterizada por uma sintomatologia aguda que afeta principalmente o sistema nervoso. O vírus pertence ao gênero Lyssavirus e à família Rhabdoviridae, que atinge predominantemente mamíferos e sua taxa de fatalidade é próxima a 100%.


Sua transmissão ocorre através da mordedura, arranhadura ou lambedura da mucosa e da pele por animais infectados, sendo transmitida por diversos animais. Desse modo, há três ciclos de transmissão possíveis: urbano (principalmente cães e gatos); rural (bovinos, equinos, suínos e caprinos); e silvestre (raposas, guaxinins, primatas e principalmente morcegos). Se para humanos as principais fontes de transmissão são os animais domésticos; para os bovinos, os morcegos hematófagos infectados são as maiores preocupações.


Prejuízos 


Considerando os prejuízos, é estimado que a raiva seja responsável pela morte de 100 mil bovinos por ano e perdas em torno de 30 milhões de dólares na América Latina. Levando-se em conta somente o Brasil, o prejuízo gira em torno dos 15 milhões de dólares anuais, além da morte de 40 a 50 mil bovinos por ano, segundo o Ministério da Agricultura e estimativas de subnotificações. Há também prejuízos indiretos, como perda da qualidade de couro, perda de peso e redução da produção de leite.


Isso não é tudo. Uma vez que se trata de uma zoonose, a raiva pode ser transmitida de animais para humanos, por isso, essa enfermidade também é um assunto de importância para a saúde pública. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a raiva é responsável por cerca de 60 mil óbitos por ano.


Sintomas em Bovinos 


A raiva pode apresentar duas formas: a furiosa ou a paralítica, sendo a última mais comum em bovinos. Os sinais clínicos incluem depressão, incoordenação, paresia dos membros, decúbito esternal e lateral, opistótono (postura rígida com costas arqueadas e cabeça mantida para trás), tremores musculares, dificuldade de engolir, produção excessiva de saliva, ranger de dentes, movimentos de pedalagem e morte.


Prevenção e combate 


Uma vez que não há cura da enfermidade, a vacinação é obrigatória em 100% do rebanho em regiões onde a colônia de morcegos hematófagos é permanente, e quando ocorre o aparecimento de focos esporádicos em certas regiões. A vacinação recomendada é de duas doses iniciais com intervalo de 30 dias, com revacinação anual e deve ser aplicada em todo o rebanho, independentemente da idade do bovino. Além disso, a vacinação deve estar associada com a imunização de outros animais da propriedade, como cães, gatos, suínos, equinos, caprinos e ovinos.


Infelizmente a raiva em bovinos dificilmente será erradicada no seu ciclo de transmissão rural, pois para isso seria necessário reduzir e controlar permanentemente a população do transmissor da raiva para os bovinos, sendo o morcego hematófago transmissor principal, o Desmodus redontus. Contudo, essa ação é trabalhosa e onerosa, além de necessitar de autorização de órgão de controle ambiental específico, ficando sob responsabilidade de especialistas dos órgãos de Defesa Sanitária Animal.


Além disso, foi criado o Programa nacional de controle da raiva dos herbívoros (PNCRH) executado pelo Departamento de Saúde Animal do MAPA, cujos objetivos são: a vigilância ativa em regiões de maiores riscos de raiva, diagnóstico laboratorial acessível a todos os casos suspeitos e vacinação estratégica de herbívoros domésticos, entre outros. Em casos suspeitos de raiva, a notificação ao Serviço Veterinário Oficial é obrigatória.


Considerando dados do MAPA para casos de raiva confirmados em bovinos, a figura 1 indica uma tendência de diminuição de casos ao longo dos anos no Brasil.



Fonte: MAPA / Elaboração: Scot Consultoria.


Contudo, devido à gravidade e às possibilidades de subnotificações, os esforços para o combate a essa enfermidade devem persistir.


Considerações Finais 

A raiva em bovinos tem resultado em prejuízos, e dificilmente será erradicada em seu ciclo de transmissão rural. Os casos possivelmente estão diminuindo ao longo dos anos graças ao controle sistemático da doença.


Fonte: Scot Consultoria