Quais os primeiros impactos do coronavírus sobre a pecuária de corte?
Na China, o principal importador da carne bovina brasileira, o consumo, normalmente feito fora dos lares, agora passa por uma alteração, com a população mais enclausurada e se alimentando em casa, dando preferência, neste momento, à carne de frango.
Quais os primeiros impactos do coronavírus sobre a pecuária de corte?

Nesta quarta-feira, 25, o Giro do Boi exibiu entrevista com a médica veterinária e cientista econômica Lygia Pimentel, fundadora e diretora executiva da consultoria Agrifatto. A analista explicou como enxerga a pandemia de coronavírus alterando dinâmicas do consumo de proteínas em todo o mundo e como isto impacta, em um primeiro momento, nos preços do setor.

Pimentel destacou que não somente a pecuária de corte, mas todos os setores da economia estão sendo impactados. Especificamente o da produção de carne bovina passar por mudanças nos canais de consumo. Na China, o principal importador da carne bovina brasileira, o consumo, normalmente feito fora dos lares, agora passa por uma alteração, com a população mais enclausurada e se alimentando em casa, dando preferência, neste momento, à carne de frango.

“Não à não a toa […] a gente viu as exportações de frango irem melhor do que as exportações de carne bovina e suína nos primeiros meses do ano. Então a gente viu esta transferência de canais de consumo prejudicar um pouquinho o consumo carne bovina”, disse.

De acordo com Pimentel, dinâmicas similares ocorrem em outros países, como na Itália e no próprio Brasil, onde parte considerável dos cortes que eram consumidos em restaurantes e refeitórios passam para dentro de casa. Por aqui, momentaneamente a preferência passa a ser por proteínas concorrentes mais baratas, sobretudo por incertezas em relação ao desempenho da economia e manutenção dos empregos.

“A gente tinha aí um consumo que era praticado, principalmente em restaurantes, refeitórios, onde a gente tem uma diversificação da oferta de carne, de proteína. Então o que você tem lá nos refeitórios? Um dia carne bovina, um dia carne de frango, um dia suíno. E agora as pessoas vão para os lares fazer suas próprias escolhas. Em primeiro lugar, a gente tem esse cenário em que, diante da ameaça do desemprego, da ameaça de não estar conseguindo tocar seu próprio negócio, e a gente sabe que mais da metade da população empregada no Brasil não é CLT, diante deste aperto, deste arrocho, a gente faz uma leve transferência do consumo da carne bovina para a carne de frango”, apontou.

Lygia analisou também o cenário de preços. “É difícil agora indicar o equilíbrio de preços. Por exemplo, a gente começou aqui em São Paulo agora a fechar os restaurantes na terça-feira e isto vai ter um efeito que a gente ainda não conseguiu mensurar, as coisas vão se ajustando conforme as novas ocorrências vão acontecendo. Este fechamento provavelmente vai intensificar a ida da população ao supermercado. […] Quando vão aos supermercados e fazem a comparação do quilo da carne bovina com a carne de frango, as populações das classes média e baixa acabam optando um pouquinho mais pelo frango exatamente por conta do arrocho que a gente está vendo. Não tá brincadeira, os profissionais liberais, ou até mesmo quem tem CLT, mas trabalha com comissão, manicure, por exemplo, aí a gente tem outra categoria, não tem Uber circulando na cidade… Estou falando de problema das cidades grandes, mas é onde está o nosso consumo, onde foi parar o nosso produto versão final. […] A gente está tentando ser o mais realista possível, ninguém para de comer, por isso que o agro continua, mas a gente deve ter algum tipo de transferência nesse processo de consumo para a carne de frango por conta do arrocho monetário que está acontecendo e é muito preocupante o que está acontecendo”, opinou.

Entre os impactos consideráveis, por exemplo, esteve o anúncio recentemente feito pelo McDonald’s de fechar seus restaurantes para conter a pandemia, enquanto funciona apenas para entregas e drive-thru, conforme ressaltou Lygia.

A analista projetou ainda situações possíveis para a oferta, caso se confirme no Brasil a mesma tendência de outros países, em que em cerca de dois meses o avanço do número de casos se estabilizou. “Dentro deste cenário, levaria a gente para maio, quando o mercado vai começar a sair às ruas de novo, muito provavelmente. E em maio a gente sabe que as pastagens estão secas, nós pecuaristas perdemos a capacidade de manter a boiada no pasto pra segurar. Até onde o mercado pode ir até lá, eu acho que pode sofrer um pouquinho mais de pressão, pouco mais. […] Então se você tem boi pra vender agora que está pronto, ao contrário de alguns pecuaristas, eu recomendaria vender porque se você precisar vender lá na frente, quando todo mundo vai precisar vender junto daqui dois meses, vai te apertar”, apontou

A analista recomendou aos agentes da pecuária acompanharam também uma possível mudança do epicentro da pandemia para os Estados Unidos, conforme cresce o número de casos por lá e ultrapassa o total de outros países mais afetados.

Já entre as oportunidades que podem surgir neste cenário, segundo a analista, está o de negociar um pouco melhor a reposição, um mercado um pouco menos dinâmico do que o balcão da arroba do boi, segundo Pimentel, mas que deve também sofrer seus reajustes.

Em sua participação no programa, Lygia Pimentel falou ainda do lançamento de seu livro “Administre o risco de preços pecuários – Um guia prático para o hedge de sucesso”, que mostra aos pecuaristas um passo a passo de como fazer a proteção contra a desvalorização natural do preços das commodities. A obra é comercializada pelo site da consultoria, agrifatto.com.br/loja, ou ou pelo e-mail [email protected].

Veja mais informações pelo perfil de Lygia Pimentel no Instagram: @lygiapimentel.

Fonte: Giro do Boi