Seca nas pastagens prejudica também a produção de leite
Situação, aliada ao aumento do preço da soja, deve tornar produto mais caro para o consumidor, assim como a carne
Seca nas pastagens prejudica também a produção de leite

A estiagem, que já começa a afetar a produção nas principais culturas agrícolas da região, impacta também na produção animal. Em Cerro Alegre, no interior de Santa Cruz do Sul, o agricultor Clênio Wlach cria gado para a produção de leite. Em uma situação normal, nesta época do ano Wlach teria a pastagem encaminhada e sua produção de milho formada, já com o aparecimento de grãos.

O produtor tem duas áreas de plantio para a pastagem que será usada na alimentação do gado. Sem chuva, uma parte está semeada e não germina; e na outra a terra está muito seca, impedindo a aragem. “Não tem nada para oferecer para o gado, a não ser o pasto que a gente compra”, revela.


Para alimentar as quase 30 vacas em sua propriedade, Wlach planta a pastagem e também o milho, utilizado para fazer a ração. Sem poder produzir o suficiente para colher e fornecer o alimento dos animais, ele é obrigado a comprar a ração, o que acaba encarecendo a produção do leite.


“É bem frustrante para o produtor. O pessoal não se preocupa em perguntar o quanto ele está gastando em função da estiagem para produzir o litro de leite. O litro sai daqui, vai para o frete, vai para a empresa, passa em quatro ou cinco setores até chegar no mercado. Ninguém pergunta o que se está ganhando ou gastando para produzir o leite. Muitas vezes, a gente fica empatado ou até em saldo negativo”, lamenta.


Além da falta de chuvas, a pandemia do novo coronavírus afeta o sustento de Clênio Wlach, que também é músico. Ele é um dos fundadores da Banda Magia, que há décadas alegra bailes em toda a região Sul do Brasil. Guitarrista, está desde março sem se apresentar com o seu conjunto.


Impacto no prato do consumidor


O secretário de Agricultura de Santa Cruz do Sul, Tiago Staub, diz que o governo municipal faz o que pode para dar suporte aos agricultores. Porém, sem a colaboração do tempo, será difícil reverter a situação. “A demanda que tínhamos, para abrir açudes e aguadas, nós suprimos. Mas é preocupante. Passei por localidades do interior no fim de semana e já havia fontes secas.” Segundo o representante do Executivo, apesar de o preço pago ao produtor nas principais culturas estar aumentando, a falta de chuvas diminui a quantidade produzida pelas lavouras.


A oferta reduzida de carne na região também afeta os comerciantes. Segundo Staub, já existem frigoríficos em Santa Cruz que estão comprando de outras partes do País, como o Centro-Oeste, pois a carne gaúcha já não têm a mesma disponibilidade e preço atrativo. O valor dos insumos para a produção também disparou. “A carne das festas do final deste ano vai aumentar, infelizmente. Para criar o porco, por exemplo, precisa da soja para fazer comida. O saco de farelo custava R$ 40,00 e hoje sai por mais de R$ 100,00”, comentou o secretário.


Segundo a coordenadora do Departamento Municipal de Redes Hídricas do Interior de Santa Cruz, Lucia Schmidt, a Prefeitura está enviando de três a quatro caminhões-pipa com água para consumo humano às regiões do interior. Essa movimentação é considerada superior em relação aos anos anteriores. “São problemas mais pontuais, em residências mais afastadas. As fontes estão secando e não se recuperaram. Estamos rezando para que chova, pois a tendência é piorar”, alertou.


Por: GAZETA DO SUL - SANTA CRUZ DO SUL